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[Crônicas da Pree] Amor via Couch Surfing vem de mochila nas costas

[Crônicas da Pree] Amor via Couch Surfing vem de mochila nas costas

Histórias de viagem

Tudo aconteceu ali, em 2006 ou 2007. Eu tinha 23 anos, estava formada em direito, estagiando num escritório de advocacia chato pra dedéu, era o orgulho do papai. Num relacionamento há 4 anos, já noiva. O futuro parecia traçado. Só que não, você já sabe: noivado finalizado, novas opções, cabelo cortado, quilos a mais, processo de loucura semiconcluído, carro vendido e tickets pra Inglaterra comprados.

Fui parar na terra da rainha por quase um ano e lá encontrei uma colega que eu havia conhecido em Florianópolis há outros tantos. Ela me disse conhecer aquele projeto engraçado onde vc veste a mochila nas costas e vai acampar por lá, na casa dos gringos que te receberão e que vc só conhecerá chegando lá. “Se registra lá”, sugeriu, sabendo que eu tinha intenção de dar uma voltinha pela Europa antes de voltar pra capital do Brasil.

Fiquei encantada com a troca cultural da coisa, com as possibilidades de viagens que se abriam mesmo não tendo um tostão pra estadia. No Couch Surfing, junto com o sofá, vinha a história do anfitrião, as dicas de lugares por onde vc jamais passaria não fosse o olhar do morador daquela cidade. Vinha a amizadhy.

Tive minha primeira experiência na Grécia. Levei a sério, ganhei mais referências e continuei meu processo por lá, no website, e frequentando alguns encontros. Já no Brasil, reestabelecida e morando sozinha, comecei a receber muita gente pelo projeto, especialmente da Europa, e achava aquilo o máximo, porque era sempre muito curioso.

É curioso receber o outro, o tão diferente de você. Eu sempre curti essa coisa de saber o que o outro vê do lugar de onde ele vem. Sempre curti mostrar um cantinho não turístico de Brasília, ajudar pessoas (que na maioria das vezes tb estão dispostas a ajudar lá do outro lado do mundo) a terem uma experiência tranqüila e mais fácil nessa supercool e esquisita capitáu do país.

Enquanto muitos diziam que eu era louca por dar a chave da minha casa pra um desconhecido, eu não me assustava com a ideia. Achava que aquilo tudo era apenas um processo interessante de, ao contrário do que todos reproduziam, voltar a confiar no mundo, afinal, abria o meu refúgio pra ele.

Eu recebia muitos meninos. Primeiro, pois eram os que mais pediam pra ficar por aqui. As meninas não vinham muito ainda. Segundo, porque eu tinha tido boas experiências com eles, havia experimentado uma boa sequencia matemática de visitas divertidas com os garotos, da Europa, da América do Norte, da África.

Não flertava com eles, talvez porque tenha tentado levar a sério aquela tácita “questão” couch surfiniana de que não é lá de muito bom tom o approach ao seu hóspede nesse sentido. Mas acontece que a paixão nasce de encontros. E o projeto CS é mais uma forma de encontrar pessoas, sejamos práticos.

Conheci o Victor Hugo Kitamoto Saenz em 11 de agosto de 2010. Era um peruano, vizinho gente-boa. Seria meu primeiro visitante sul americano, e eu lembro que aceitei o pedido dele justamente por isso: eu queria trazer alguém de fora do circuito Europa, conhecer los hermanos tb.


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Ele pediu pra ficar no meu sofá por 2 dias. Ia ficar uma noite e partir pro Rio de Janeiro, cidade que queria conhecer pois, cineasta, tinha assistido ao filme “Brazil”, do Terry Gilliam, ainda na Universidade, e havia se apaixonado pelo imaginário carioca.

Acontece que duas semanas antes dele chegar, eu tinha acabado de receber por 15 dias um amigo francês que estava vindo pela segunda vez. E receber também é cansativo, principalmente quando você busca dar atenção e tempo pras pessoas que recebe, algo difícil se vc trabalha 8 horas por dia (na época, eu trabalhava 6, era mais possível).

Exausta, repensei se receberia o peruano ou não. Ele ainda não sabia, mas eu estava determinada a ajudá-lo a encontrar outro anfitrião e não hospedá-lo mais. Entrei no perfil dele do CS, já preparando minha fala, até que percebi que ele não tinha “referência” alguma por lá.

Para quem não sabe, “referência” é uma notinha gravada no seu cadastro CS, um testemunho de alguma pessoa que te recebeu ou que se hospedou com vc (ou que te conheceu) dizendo que vc existe, é legal, bom viajante e que não vai te fazer mal, basicamente. O fato dele não ter nenhuma foi mais uma deixa pra um conversê nesse sentido. No conversê, no entanto, ele me dobrou, me fez rir, e, lembrando que ele ficaria só dois dias, abortei a missão de limá-lo do meu sofá.

Era bem cedo quando fui buscar o gente boa no aeroporto. Ele chegaria às 7h, eu disse que só poderia buscá-lo às 8h, e cheguei lá às 9h. Ele estava assustado, pensando que eu havia esquecido dele, e que, portanto, tinha se dado mal na sua segunda experiência Couch Surfing.

Nos abraçamos, ele parecia tímido, mas simpático. Paguei o ticket do estacionamento, o levei pra casa, deixamos suas coisas por lá e saímos pra uns roles. Não sei o que aconteceu, mas algo me chamou muito a atenção nele, porque era fácil lidar com o rapaz. Tudo o que ele dizia soava razoável, nada machista e sempre muito calmo.

Almoçamos no Xique-xique e parti para meu trabalho. Nos encontramos a noite num bar com meus amigos, os mesmos que disseram que ele era um broto e que eu deveria fazer um approach diferenciado. “Parem, eu pedia”, muito profissional. Mas enquanto o peruano falava (e ele falava muito pouco, tão tímido que era), eu percebia que me derretia, algo que não era normal acontecer em Preeland.

No dia seguinte, aconteceu. Foi no lançamento de um bar lésbico, com amigas lésbicas, e ele, sempre seguindo a onda, topou ir junto. Ele estava de olho numa delas, e achou que ela também tava de olho nele, até descobrir que ela estava de olho em mim. Foram só duas caipiroskas até eu entender que eu tava de olho nele.

Acordei ao lado de um peruano. Eu não era boa nisso de acordar ao lado de ninguém. Queria fazer xixi, mas ele tava lá, ele ia acordar e eu ainda não tava pronta pra lidar com um peruano acordado, mas não teve jeito. Voltando do toalete, lá estava o Kitamoto olhando pra mim, com olhar terno, calmo, à vontade, de quem não iria se mexer dali tão cedo.

Senti-me à vontade instantaneamente. E foi assim que tudo começou.

A partir daí, a história é a mesma de um casal comum, que vive na mesma cidade. Borboletas no estômago, cabide na boca, coisa e tal.  Com a diferença de que, a partir dali, estávamos travando um pacto tácito de que um dos dois teria sempre uma mochila nas costas pra se encontrar.

Foram dois anos e meio até o moço estratejar sua vinda pra cá. Hoje, um ano e meio juntinhos, na capital do Brasil. Quatro anos no total. Meu marido, meu amigo, meu namorado. Via couch surfing express. E não pense que o fato dele estar aqui nos possibilitou aposentar as mochilas. Todo natal a sogra peruana manda a convocação e reza 10 ave-marias pra gente topar uma ceia por lá. E é assim que é, carimbando passaportes, pra sempre. <3

 “Love is a freaking mistery”.

E é aqui que eu me despeço, mandando meu feliz dia dos namorados a todos os viajantes que se toparam meio assim. Ou assado. A todos os que topam long distance relationships. E a quem já chorou assistindo a atuação de  Drew Barrymore e Justin Long em “Going distance”, falei, beijos.

Texto da Pree Leonel

About the author

Viciada em viajar, mas que sossegou - só um pouco - no Chile pra abrir um hostel. Já esteve em 9 países e mais de 100 cidades fora do Brasil. Não sabe nadar (mas sabe andar de bicicleta). É facilmente comprável com doces e bom café. E é mão de vaca (isso é um dado importante).

1 Comment

  1. marcos paulo vilela
    16 de outubro de 2019 at 14:54
    Reply

    Nossa que legal, este estilo de vida é uma libertação, como eu queria viver assim rsrs!!

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