Humberstone foi um dos lugares mais diferentes que conheci aqui no Chile. É daquele tipo de lugar que é turístico, mas não é. É história, é triste e parece que não existe. Parece que é cenário de filme, daqueles antigos, ou talvez de bang bang. E ao mesmo tempo é lindo. Bem vindo a cidade fantasma de Humbertone.
Humberstone: a produção de salitre e as guerras

Humberstone não era apenas uma cidade, foi uma cidade que foi construída com um motivo: hospedar os trabalhadores da usina inglesa de produção de salitre. Como o salitre era extraído no meio do deserto do Atacama e a cidade mais próxima era Alto Hospício (que fica pertinho de Iquique, no norte do Chile) ficava bem longe da produção, a solução foi criar a cidade de La Palma – que depois ficou conhecida como Humberstone – por causa do engenheiro inglês James Humberstone, que imigrou para a América do Sul para trabalhar com o ouro branco.
O salitre natural foi muito importante no fim do século XIX e início do século XX – era usado na agricultura, como fertilizante, e nas indústrias bélicas, na produção de dinamite.
Bom, já deu pra entender que o salitre era importantíssimo para a economia, né? E foi uma das causas da Guerra do Pacífico, que o Chile ganhou sobre o Peru e Bolívia e anexou a região de Arica e Iquique ao seu território.
E uma outra guerra fez com que Humberstone se tornasse uma cidade fantasma: a Primeira Guerra Mundial. A Inglaterra bloqueou a exportação de salitre para a Alemanha e os alemães foram forçados a desenvolver uma alternativa – o salitre sintético. Isso, combinado com a crise de 30 fez com as exportações caíssem e as fábricas falissem, deixando um monte de gente desempregada e as cidades vazias. Já não tinha nenhum sentido morar naquele fim de mundo e no meio do deserto, né?

E com o clima super seco do Atacama, a cidade ficou conservadíssima, virando essa atração meio creepy que virou Patrimônio Histórico pela UNESCO em 2002.
A visita à Humberstone
Vai por mim, você vai ‘perder’ um dia todo lá. É uma cidade INTEIRA pra conhecer! Tem de tudo: as casas onde os trabalhadores viviam, a indústria, a cidade em si – com mercados, piscina, teatro… – e a subida até um morro, de onde dá pra ver tudo de cima e ter ideia do quão imensa era a cidade (e quão no meio do NADA estava).
O sol nessa região é de matar! Filtro solar antes de ir e não esqueça de repassar, porque queima MESMO!
Na entrada te passam um mapa com os detalhes de onde está cada construção e uma explicação básica de cada parte da cidade e da fábrica de salitre. São muitas construções e, pra entrar em tudo, vai um dia inteiro.

Logo na entrada tem uma sequência de várias casas de empregados que viviam com a família na usina. Ou seja, dá pra ver como era a vida de uma maneira quase intocada. Tem brinquedos feitos de todos os tipos de material reciclado da produção, tem quadros, tem camas feitas… tem até um balanço e um cavalo de madeira! Parece um cenário de um filme – possivelmente desses de terror!



Foi uma coisa tão intensa e estranha estar dentro de Humberstone que eu não me lembro de estar conversando ou rindo a toa. A gente tava fotografando horrores, num mix de assustadas com a loucura desse lugar, com um calor insuportável do deserto e com aquele sentimento de respeito, por toda as coisas ruins que aconteceram por lá.
Humberstone ficou conhecida pela Matanza de la Escuela Santa Maria, quando mais de 2000 pessoas foram assassinadas na cidade por estarem de greve, por conta das péssimas condições de trabalho na indústria.
Dá pra entrar nas casas, na usina, no hospital (acho que essa foi uma das piores partes), igreja… tudo está lá, aberto para visitação. E muito conservado, como se fosse um cenário.
O colégio, o teatro, um mini mercado… mas não pra todos, né? Dá pra notar claramente a divisão da área dos patrões – a maioria ingleses – e dos empregados, que estavam trabalhando na usina em um sistema de semi escravidão, já que os descontos pela casa e comida era quase o total do salário (miserável) que pagavam. É de cortar o coração. Mesmo.

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Bom, voltando à parte prática da visita… Dá pra se perder entre esse monte de casinhas e ficar horas tirando fotos, mas não deixe de conhecer pelo menos um pouco das quatro regiões de Humbertone: as casas, a parte pública, a produção de salitre (força que essa é mais longe!) e não deixe de ir ao mirante (no mapa, o ponto 3), a vista vale muito a pena!
Sem dúvidas, tem que deixar um dia cheio para ir a Humberstone, já que fica um pouco longe e o dia passa voando por lá.



Outra dica importante é levar comida, já que lá só tem um mercadinho que vende o básico e é meio carinho. Mas guarde uns pesos chilenos pra um sorvete e muitas águas, o calor EXIGE!
E lá a gente provou o chumbeque, um doce típico dessa região – e bem doce!
Como chegar a Humberstone (sempre o método barateza!)
Humberstone está aberta todos os dias do ano (menos o 1º de janeiro!) e pra chegar lá é fácil. Só que demora um pouquinho, já que são quase 50km de estrada.
Desde o Mercado de Iquique (Calle Barros Arana com Sargento Aldea), saem os ônibus das companhias Pampa y Mar e Chubasco. Desde às 6 da manhã tem ônibus indo para Pozo Almonde (mas peçam pra descer em Humberstone, que vai custar menos). E saem mais ou menos a cada meia hora.
Cada trecho custa CLP 1500 e o ônibus te deixa quase em frente da usina. Mas sério, não tem como se perder, é a única coisa que tem no meio do deserto!
Para voltar é fácil, só tomar o ônibus no ponto em frente à usina.
Quanto custa a entrada?
Para adultos, a entrada é de CLP 3000.
Terceira idade CLP 2000. E crianças e estudantes CLP 1000.
Na entrada também está incluída a visita a Santa Laura, uma outra usina/cidade fantasma, mas a gente gastou quase um dia inteiro em Humberstone e as pernas arregaram pra chegar em Santa Laura. Ficou pra uma próxima! Espero!
Daniela
15 de julho de 2017 at 18:49Muito obrigada pela resposta Camila. Vou ver como estarão os passeios em San Pedro, pois devido a neve que caiu em junho muitos passeios que eu gostaria de fazer estavam fechados, se estiver nesta situação eu encaro as 6 horas de ônibus…
Camila Lisboa
16 de julho de 2017 at 15:41Verdade! 🙂 Mas acho que o melhor é não planejar tanto… você já sabe as suas opções, então, se no Atacama não der certo, vai pra Iquique que é um charme de cidade <3
Daniela
9 de julho de 2017 at 14:52Camila, amei seu post! Muito bem escrito. Estou louca pra conhecer esse lugar, não consigo parar de pensar nisso…rs Quero sua opinião sobre o que eu pretendo fazer. Estarei em San Pedro de Atacama e tenho um dia livre no meu roteiro, pensei em pegar um ônibus em San Pedro para Iquique (chegaria em Iquique às 4:30h) pegaria um taxi até o Mercado Central que vc citou e pegaria o primeiro ônibus para Humberstone. Voltaria para San Pedro no mesmo dia, dormiria apenas no ônibus. Estou com medo de não conseguirmos um taxi e não ter onde ficar até o horário do primeiro ônibus. Como é Iquique nesse sentido? Será que é muita loucura fazer isso?
Camila Lisboa
9 de julho de 2017 at 18:56Oi Daniela! Acho meio loucura pela distância =/ De San Pedro a Iquique é beeeeeeeeeem longe, ia ser cansativo. Eu adorei Humberstone, mas acho que, estando no Atacama, tem tanta coisa linda pra ver que eu aproveitaria mais as atrações mais próximas do que andar esse tanto por um bate e volta =/
A rodoviária de Iquique é ok, mas não tem onde dormir (eu cheguei de madrugada tb, fiquei lá esperando amanhecer, mas acordada).
Débora Resende
5 de junho de 2017 at 11:12Eu tenho muita vontade de conhecer lugares assim. Mesmo sendo triste, é muito interessante conhecer a história que se passou aí e deve ser incrível viver isso dentro da cidade!
Camila Lisboa
8 de junho de 2017 at 18:04É interessante demais! Dá pena, mas a gente tem que conhecer um pouco mais da história de onde a gente visita!
Gê Azevedo
28 de abril de 2017 at 18:54Que lugar interessantíssimo, Camila. Confesso que meu até um aperto no coração saber sobre esse massacre por conta da greve, especialmente hoje, dia da greve geral aqui no Brasil.
Camila Lisboa
3 de maio de 2017 at 11:39Um motivo mais pra gente pensar no que anda acontecendo né…
Diego Drush
13 de fevereiro de 2017 at 22:15Eu vim aqui pensando “será que a Cami já foi para Iquique e será que tem post no blog”. TEM! Fiquei com mais vontade ainda de conhecer!
Camila Lisboa
23 de fevereiro de 2017 at 15:48E falta post, Di 🙂 Cadê meu tempo de escrever com esse hostel lotado?! 😉
Simone Hara
9 de fevereiro de 2017 at 22:29Que lugar bacana! nem imaginava que existia! E suas fotos como sempre são matadoras!
Camila Lisboa
13 de fevereiro de 2017 at 12:14Obrigada <3
Adriana Magalhães Alves de Melo
1 de fevereiro de 2017 at 17:57Post incrível, Camila. Vou agendar pra compartilhar amanhã!
Camila Lisboa
2 de fevereiro de 2017 at 14:33Obrigada Dri 🙂
rozembergue
9 de janeiro de 2017 at 14:30Uma verdadeira aula de história Camila! Parabéns! Que cidade hein?! Me lembrou Uyuni na Bolívia. Um abraço!
Camila Lisboa
9 de janeiro de 2017 at 18:50É muito doido, né? 🙂 vale muito a visita!
Ju Garzon
9 de janeiro de 2017 at 13:44Super creepy você quer dizer, né? Não é o tipo de lugar que gostaria de visitar, como você sentiu a “energia” do lugar (se liga para essas coisas)?. Não conhecia Humberstone e nem a história, obrigada por compartilhar esta experiência!
Camila Lisboa
25 de janeiro de 2017 at 18:12É esquisito demais estar por lá, mas faz parte da história e acho que vale a pena! 🙂
Juliana Brandao
9 de janeiro de 2017 at 08:29Esse passeio deve ser animal!
Fiquei viajando junto com seu post, muito bom!
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:02É muito doido esse lugar!
Edson Amorina Jr
9 de janeiro de 2017 at 05:48Eita que creep… deve ser uma sensação bem única estar num lugar que inteiramente abandonado.
Camila Lisboa
25 de janeiro de 2017 at 18:12Parece cenário!
Marcia
8 de janeiro de 2017 at 22:39Ótimo post, Camila. Nunca tinha lido nada a respeito. Me lembrou Chernobyl…
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:03Verdade… tem um ar meio parecido mesmo
angie
8 de janeiro de 2017 at 20:48meu caraiooo quando pensei q era de terror não imaginava q era de verdade!!! 2 mil pessoas assassinadas, que tristeza 🙁
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:03=/
Itamar Japa
8 de janeiro de 2017 at 17:06Nunca tinha ouvido falar da existência desta cidade antes de você postar. Achei muito interessante a história dela. Tem um aspecto meio Chernobyl da vida e algumas fotos lembram de fato a filmes de bang bang. Adorei o post!
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:03É meio estranha a visita – esse mix de tudo isso que vc falou é verdade! – mas vale a pena! É uma parte muito interessante da história do Chile
Juliana Rios (Juny)
8 de janeiro de 2017 at 09:33Nunca tinha ouvido falar dessa cidade, bem interessante toda essa história dos moradores terem abandonado a cidade quando a indústria faliu.
Mas deve ser bem sinistro andar por essas casas, parece uma coisa meio Chernobyl
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:04Verdade! Parece muito!
Taís
7 de janeiro de 2017 at 21:04Quando olhei a primeira foto me deu essa sensação de um filme de bangbang misturado com terror! Realmente parece um cenário de filme, coisa louca imaginar que pessoas moravam ali. Muito legal saber mais sobre esse lugar, nunca tinha ouvido falar. Obrigada por mostrar aqui pra gente, Camila! Adorei 🙂
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:04=) obrigada por comentar!
Ana Carolina Miranda
7 de janeiro de 2017 at 14:09ótima dica, Camila! Acho que este passeio deve ser incrível! Adoro opções para fugir do tradicional!
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:04É estranho, mas lindo! E meio creepy…
Alessandra Maróstica de Freitas
7 de janeiro de 2017 at 09:06Post super interessante! Esta foi a primeira vez que ouvi falar neste lugar. Adoro conhecer lugares que tem história para contar, por isso adorei a dica!
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:05É bem desconhecido mesmo… Nunca tinha encontrado info sobre esse lugar!
Flavia Zenke
6 de janeiro de 2017 at 23:07Oi Ca! Nossa não sabia que existia um lugar assim! Bacana o seu post e já anotei a dica! Adoro lugares diferentes, Bjs
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:05Esses achados de viagem… 🙂
Fabio Pastorello
6 de janeiro de 2017 at 22:37Uau, que lugar, que história, realmente parece coisa de filme. Impressionante.
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:05Doido, né?
Amanda Saviano
6 de janeiro de 2017 at 21:12Caramba, nunca tinha ouvido falar na cidade e olha que morei um tempinho no Chile! Adorei a dica, fica pra uma próxima =) Beijos!
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:05😉 obrigada por comentar!
Flávia Donohoe
6 de janeiro de 2017 at 20:24que medo, tempos atrás recebi um cartão da mina de chuquicamata que fica próximo ao Atacama e fiquei impressionada, lá eles faziam a extração de cobre, acho que ainda fazem, e a cidade também é fantasma por conta do alto teor de cobre por lá, pelo jeito aí é o do mesmo jeito, é algo bem interessante, mas fico com um frio na espinha só de ouvir as estórias. Bacana saber mais sobre esse lugar!
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:06Essa mina eu não conheço! Vou dar uma pesquisada 🙂
Gabi Pizzato - Devaneios de Biela
6 de janeiro de 2017 at 19:12Adorei a dica! Ia me perder nessas casas e acabar com o cartão de memória da máquina!
A parte triste, a gente deixa de lado… já passou! 😉
Camila Lisboa
1 de fevereiro de 2017 at 14:06É né… melhor assim!
Marta Chan
6 de janeiro de 2017 at 17:16Como adoro lugares assim abandonados, mas esta cidade de cowboys está muito bem mantida, gostei de espreitar por dentro da casa e do teatro 😀 Dá para notar que faz maior calor pois vista de cima parece uma cidade no meio do deserto. O Chile esconde recantos tão mágicos, tenho de ir em breve!
Klécia
6 de janeiro de 2017 at 11:56Que bacana esse lugar. Não conhecia, mas do jeito que você contou, deve dar mesmo pra sentir a energia de tudo que foi vivido aí. Vou tentar encaixar qualquer dia desses num roteiro pro Chile. Parece valer muito a pena.
Camila Lisboa
6 de janeiro de 2017 at 13:38Fica meio de lado nos roteiros normais pelo Chile, mas vale a pena, né? 🙂
Patricia
6 de janeiro de 2017 at 11:39Muito interessante!
Um lugar cheio de história para contar (tristes, infelizmente). Nunca tinha ouvido falar de cidades fantasmas no Chile.
Camila Lisboa
6 de janeiro de 2017 at 13:38E não é só Humberstone, tem Sewell também!